Por que importar médicos para o Brasil?

O problema da saúde no Brasil não é falta de médicos, mas de gestão

No início de junho, o povo brasileiro decidiu soltar a sua voz indo às ruas. As grandes capitais do país estavam tomadas de gente inconformada.  Ali não havia distinção de cor, raça ou religião. O que se via era a união de um povo que tinha a mesma certeza: o Brasil precisa mudar.

A presidente do nosso país, Dilma Rousseff, pressionada pelas manifestações públicas com bandeiras multifacetadas, decidiu se pronunciar, e o fez durante reunião com prefeitos e governadores de todo o país. Na ocasião, assumiu compromissos de ações nas áreas de transporte, responsabilidade fiscal, reforma política e saúde.

Críticas brotaram de todo lado, sobre todos os assuntos e esfriaram, ainda que temporariamente. O alvo de ataques do momento é a decisão do governo de trazer médicos do exterior para trabalhar em regiões inóspitas e distantes do Brasil, nas quais se concentram as populações mais desassistidas sob todos os aspectos, de emprego e renda aos serviços públicos básicos, gente que desafia a vida todos os dias.

Essa medida, já defendida pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, prioriza Portugal e Espanha, já que nesses países há reserva de bons profissionais devido à retração do mercado de trabalho decorrente da crise econômica por que passa a Europa. A Associação Médica do Brasil (AMB) é contrária à medida, pois afirma que o que falta para os médicos do Brasil são estímulos. Concordo com esse posicionamento.

O problema principal da saúde brasileira não é a falta de médicos, mas a falta de estrutura. Se você for a qualquer hospital da rede pública vai se deparar com essa demanda. Eu tenho amigos médicos que sempre comentam comigo que faltam, muitas vezes, lençóis para forrar as macas nas quais são realizadas as cirurgias. Difícil de acreditar? Mas é fato.

mais medicosDa mesma forma, não é raro vermos na imprensa matérias que, bem fundamentadas, informativas, revelam casos em que equipamentos hospitalares caros são importados e ficam anos sem uso, até virarem sucatas – enquanto as filas de doentes crescem à espera de um exame. Matérias que mostram outros hospitais construídos e com centros cirúrgicos vazios, esses por faltas dos equipamentos que não foram instalados – e as filas continuam lá fora, com a população sempre esperando, e até morrendo.

Mas essa falta de estrutura, na verdade, é, como se diria na linguagem médica, sintoma. Sintoma de que? Sintoma de falta de gestão. É a mesma coisa que você ir ao supermercado sem olhar antes o que precisa comprar. Quando voltar, vai comprar coisas a mais e faltará o quilo do açúcar, uma margarina extra – para quem pode ter o luxo de fazer sobre algo hoje em dia.

O grande mal de que o Brasil padece hoje é a falta de gestão. No caso específico de que estamos falando, a falta de gestão faz faltar estrutura de saúde nos rincões, do que decorre principalmente a falta de interesse dos profissionais de medicina de seguirem para prestar o seu ofício nesses lugares mais distantes.

O programa do governo, que pretende trazer médicos do exterior para levar a esses lugares, é válido. Mas como política emergencial e desde que a prioridade de opção seja dada aos profissionais brasileiros – como tem sido feito até o momento. Oferecer um bom salário é um forte chamariz para quem vai. Dinheiro é importante, mas não é tudo. No caso em questão, o tudo é a vida das pessoas que moram nessas comunidades distantes. Elas não vão receber salários polpudos. Necessitam, sim, ser atendidos por profissionais motivados, que disponham de estrutura para trabalhar, o que só virá como resultado de uma gestão eficiente por parte do governo.

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