“O legado maior que meu pai me deixou foi a honestidade e acreditar na força do trabalho”

“O legado maior que meu pai me deixou foi a honestidade e acreditar na força do trabalho”

Eu cresci ouvindo meu pai contar histórias de violências e assassinatos praticados por seus tios. Os mais comuns eram os crimes em decorrência da chamada “lavagens de honra”. E ele acabou trazendo esse código de  honra e conduta para a sua vida e para a fazenda. A herança e o código que recebíamos foi que homem não chorava e que se resolvia tudo no braço ou na bala. Para engrossar um pouco mais esse caldo, soma-se que na época da minha adolescência, as forças públicas eram escassas e estavam passando por um processo de implantação.

Apesar de tudo, o legado maior que meu pai me deixou foi a honestidade e acreditar na força do trabalho e da honradez. Virtudes que naquela época tinham muito mais valor do que nos dias de hoje. Outro traço da família do qual meu pai tinha muito orgulho era da nossa participação política. Não tem como negar a influência do meu pai quanto a minha participação na política. Essa necessidade de lutar e acreditar sempre na vida são exemplos que vem dele. O último episódio na vida política do meu pai foi aos 70 anos de idade. Quando eu cheguei a sua casa, em Goiânia, ele me disse que entraria na Justiça contra sua cassação pela ditadura, reivindicando indenização pela perda dos seus direitos políticos. Eu tentei dissuadi-lo daquela ideia, mas ele se manteve firme dizendo que iria lutar até o fim. Qual não foi a minha surpresa alguns meses depois, quando voltei à sua casa ele me mostrou a certidão de cassação política da cidade de Ouro Verde. Ali estava a declaração constando a sua cassação pela Ditadura Militar no Golpe de 1964. A maior surpresa foi ver realmente que ele, após falecer, ganhou na Justiça a sua indenização. Valor bastante simples financeiramente, mas significativo para a mente e o coração, especialmente dele e da minha mãe, que foi quem mais sofreu, junto com ele, daquele processo de insegurança e medo, causado pela Ditadura.

Meu pai faleceu em Maio de 2002, próximo aos dias de seu aniversário de 74 anos, mas até hoje eu guardo as lembranças de um homem guerreiro, lutador, que acreditava na força da palavra e na honra acima de qualquer coisa dessa vida.

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