ESMOLA OU CIDADANIA?

Uma das maiores verdades propagadas pelo presidente Lula, no início do seu governo, é: “a fome não espera”. Sim, a fome não espera o desenvolvimento; a fome não espera o equilíbrio financeiro; a fome não espera a queda da inflação ou o abrandamento do dólar. A fome “dói” e só quem já teve o desprazer de conhecê-la de perto sabe quão profunda e revoltante é esta dor.

É absolutamente inaceitável nossa sociedade conviver com a fome. Não podemos aceitar, de forma alguma, que, por um lado o Brasil seja o país das grandes safras e, por outro, o país dos famintos. Também não podemos aceitar que os países mais ricos, hoje, tenham um PIB de 27.911 dólares por ano e esquecer que os mais pobres precisam sobreviver com 529 dólares anuais. Essa diferença é gritante. Retrata uma realidade selvagem e despida de qualquer sentimento de amor e responsabilidade pelo próximo e pelo mundo, que juntos estamos construindo.

Do ponto de vista cristão, nossas organizações e iniciativas são as que mais têm se desdobrado para tentar amenizar essa dor social. Está em nosso DNA: o cuidado pelos pobres e famintos, tanto que o Senhor Jesus disse ser deles (dos pobres) o Reino de Deus. Assim, as boas novas (o Evangelho) precisam alcançá-los, exatamente porque eles estão “clamando” por causa da fome.

Temos observado, há séculos, que a igreja cristã sabe muito bem diferenciar esmola de cidadania. Este é o outro lado da moeda. Não basta apenas dar comida, “cheque cidadão”, roupas, ou qualquer outra obra generosa. É preciso ir mais além neste ofício de construir uma sociedade mais justa e que espelhe o reino de Deus. É preciso, preferencialmente, oferecer cidadania. Todos os governantes, organizações não governamentais (ONG’s) e outras entidades sabem que esse é o melhor caminho.

Não é apenas o governo que possui essa responsabilidade. Toda a sociedade precisa aprender a prestar auxílio, mas com o real sentido de solidariedade. É preciso saber usar esta força motivadora que é o “DOAR”, para gerar cidadania e responsabilidade.

Lembro-me da primeira vez que fui abordado por um menino de rua pedindo uns trocados em um semáforo (nessa época, ainda não havia sido implantado o Programa Bolsa Escola). Conversei com ele aproximadamente dois minutos e o desafiei a parar de “pedir” e começar a “vender” alguma coisa. Então, ele me contra argumentou que não possuía dinheiro para iniciar, por isso doei alguns reais e prometi voltar para ver como ele estava se saindo. Optei por usar a oportunidade de “doar”, para “ensinar”.

Como seria se toda a sociedade fizesse isso? Primeiramente, não teríamos pedintes, mas trabalhadores informais.

Sim, vamos matar a fome. Mas, vamos também matar o analfabetismo, a ignorância e a subserviência por meio dessa força motivadora. Vamos dar cidadania!

Não é apenas do governo a responsabilidade. É de todos nós.

Bp. Robson Rodovalho

Brasília, 27/08/09

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